quarta-feira, 15 de junho de 2011

As variações da língua

Prestem muita atenção nos textos abaixo:



“Minha vó contava uma história quandu a família tava reunida , sobri um tiu... achu qui é tiu avô, num sei... bom, essi tiu, chamava Zuardo, mais u nomi deli era pá sê Osvaldo! “. É qui quandu fôru registrá eli, disséru “Osvardo”, tão rápidu, cum um ô qui nem dava pra ouví e cum um érri nu lugar di éli, qui u iscrivão intendeu Zuardo! I intão, ficou assim...” 

Ana Cláudia, 04 de maio de 1999

 “Pois é. U purtuguêis é muito fáciu di aprender, purqui é uma língua qui  a genti iscrevi ixatamenti cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi di ri quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im portuguêis, é só prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muito diferenti. Qui bom qui a minha lingua é u purtuguêis. Quem soubé falá, sabi iscrevê.”

Jô Soares, revista veja, 28 de novembro de 1990

O que são dialetos e sotaques? 
Dialeto são as variações de pronúncia, vocabulário e gramática pertencentes a uma dada língua. Ao contrário do que muitos pensam, os dialetos não ocorrem somente em regiões diferentes, pois numa determinada região existem também as variações dialetais etárias, sociais, referentes ao sexo masculino e feminino e estilísticas. Como exemplo, podemos citar a cidade de Campinas: as pessoas que vieram de diferentes regiões para essa cidade convivem entre si e entre os “nativos”, ocorrendo assim, um “intercâmbio” de dialetos regionais. Esse tipo de fato pode gerar mudanças no dialeto do campineiro.

Existem dialetos que evidenciam o nível social ao qual  pertence um indivíduo. Um fato muito importante que a Sociolinguística explica é que os dialetos mais prestigiados são das classes mais elevadas e o da elite é tomado não mais como dialeto e sim como a própria “língua”. Por outro lado, ocorre discriminação do dialeto das classes populares. Essa discriminação é geralmente baseada na ideia de que essa classe, por não dominar a norma padrão de prestígio e usar  seus próprios métodos para a realização da linguagem, “corrompem” a língua com esses “erros”. No entanto, as transformações que vão acontecendo na língua se devem também à elite que absorve alguns termos de dialetos de classes mais baixas, provocando uma mudança linguística, e aí o “erro” já não é mais erro... e nesse caso não se diz que a elite “corrompe” a língua.

Um outro contraste existente é o que diz respeito ao dialeto usado por jovens e idosos. Na fala dos jovens há presença de gírias e também estão mais direcionados a usar uma linguagem mais informal, enquanto isso, os idosos são mais "conservadores".  Essa falta de conservadorismo característica no dialeto dos jovens costuma trazer mudanças na língua. Algumas gírias usadas por jovens da década de setenta no entanto não entraram na língua e são hoje raramente usadas. A palavra “legal” é um exemplo dessas gírias que foi aceito e hoje essa palavra é usada amplamente na linguagem informal, abrangendo todas as faixas etárias.

Podemos concluir que, nem tudo que é novo e diferente irá se efetivar numa língua, podendo alguns vocábulos simplesmente ir desaparecendo e outros continuarem existindo dentro de um determinado dialeto.

Há também diferenças nas variações entre os sexos. As mulheres apresentam a tendência de falar no diminutivo, como: “bonitinho”, "bebezinho", “gracinha”, “menininha”. Os homens costumam mostrar o oposto das mulheres, ou seja, na fala deles as palavras tendem a estar no aumentativo, como nas palavras: amigão, Marcão (sendo este último um nome próprio).

Dependendo do ambiente em que o indivíduo se encontra, ele usará a linguagem coloquial, formal ou informal e essa diferença de tratamento faz parte da variação estilística. Um outro fator importante é que o dialeto falado se distingue do dialeto escrito.

Alguns dialetos são usados com diferentes sotaques regionais, como ocorre na norma culta da língua portuguesa. Os sotaques então, não podem ser confundidos com dialeto, pois o que caracteriza o sotaque é apenas a diferença de pronúncia dos falantes.
Para concluir a explicação, uma reflexão de Lyons.

“A questão é que certas diferenças fonéticas entre sotaque podem ser estigmatizadas pela sociedade, da mesma forma como certas diferenças lexicais e gramáticas entre os dialetos o são. O sotaque e o dialeto de uma pessoa varia sistematicamente segundo a formalidade ou informalidade da situação em que se encontra. ( Linguagem e lingüística. Uma introdução - John Lyons).”


Fonte: http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/v00003.htm

Postado por: Nícollas Abreu


Um comentário:

  1. Oi,
    Nicollas,
    este texto é mais completo e mais esclarecedo que o anterior.
    Boa escolha!
    abraços,
    Aluiza

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